O organismo impulsionador da rede de serviços
poderá ser um organismo governamental dos direitos da pessoa humana (conselho, assessoria,
secretaria, coordenadoria), uma organização não-governamental ou qualquer outra
instituição legitimada e com poder de convocatória para essa missão.
Tudo vai depender do contexto local. O
organismo impulsionador não pode ser assumido pelos demais como o responsável
por “carregar o piano” de todo o trabalho em rede e nem como o “dono da rede”.
Se a coisa começa assim, o próprio conceito
de rede já entra em conflito. Não podemos reproduzir a cultura tradicional das
relações piramidais de poder!
Um organismo facilitador tem o papel de
animar, de dinamizar as relações entre as integrantes e de criar condições para
que a rede vá se fortalecendo enquanto modelo de gestão compartilhada.
Para isso, é necessário que o organismo
impulsionador tenha pessoas com perfil de liderança facilitadora. Uma
instituição ou grupo pode até ter legitimidade para mobilizar
o processo, mas se a pessoa ou pessoas que
encabeçam essa mobilização forem centralizadoras, não tiverem capacidade de
articulação, entre outras limitações, o processo obviamente terá mais
dificuldades para decolar.
Muitas vezes pessoas, grupos e instituições
têm o desejo de que haja alguém ou algo que responda por tudo, faça tudo e
mantenha uma relação tutelada com as demais. Cuidado: esse processo leva os
integrantes a se desresponsabilizarem pelo desenvolvimento, aprimoramento e
consolidação da rede de serviços, limitando todo o potencial criativo e
inovador que as redes possuem, conforme já colocado.
E aí chegamos na discussão sobre as relações
de poder e espaços de decisão na rede. Na medida do possível, é importante que
as principais decisões sejam pactuadas em espaços que tenham representantes de
todas as instituições, grupos e organizações integrantes.
Pode-se também eleger um grupo gestor que
divida atribuições com o organismo impulsionador ou que, com o tempo, exerça
esse papel impulsionador. O grupo gestor pode ser renovado de tempos em tempos,
permitindo que outras instituições exerçam esse papel.
A conexão do processo com um fórum amplo de
instituições, grupos, movimentos que atuam junto a Política Pública e da
promoção dos direitos humanos também poderá ser mais um espaço de influência,
proposição, monitoramento do trabalho em rede pela sociedade civil.
Como já ressaltado, é fundamental que a rede
de serviços dialogue e se articule com os movimentos, assim como estabeleça conexões
com redes e articulações locais, regionais e nacionais ligadas às questões
abordadas pela rede.
As trocas, os diálogos e a divulgação do
próprio trabalho contribui com outros olhares e acúmulos para o enriquecimento e
o fortalecimento das instituições e das pessoas que a constituem.
Fonte:
adaptação e transcrição da publicação Vem pra roda! Vem pra rede: Guia de apoio à construção de redes de serviços para o enfrentamento da violência contra a mulher / Denise Carreira, Valéria Pandjiarjian - São Paulo;
Rede Mulher de Educação, 2003.
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