4 de out. de 2012

Construção de Redes - VII



Mudando corações e mentes
Em grande parte, a maioria das instituições da sociedade se estrutura de forma piramidal. Em grande parte, fomos educados para viver e atuar em estruturas piramidais. Por isso, um trabalho em rede que reconheça a diversidade, democratize o poder e promova uma atuação descentralizada e articulada constitui um grande desafio para as instituições (públicas e privadas) e para as pessoas que nela atuam.
As redes mexem com formas instituídas de poder, por isso muitas geram conflitos e fazem parte de um novo jeito de enxergar e atuar na realidade social, propondo uma mudança de paradigma.

E o que é um paradigma?
O paradigma dá a base do jeito como encaramos, compreendemos e atuamos no mundo. Segundo Edgar Morin, o paradigma pode elucidar e revelar, como também ocultar e cegar. Dessa forma, as pessoas conhecem, pensam e agem conforme paradigmas inscritos culturalmente. paradigma predominante em nossa sociedade é o paradigma cartesiano que compartimenta o conhecimento, estabelece relações hierarquizadas e dissocia sujeito e objeto, natureza e humanidade, qualidade e quantidade, alma e corpo, masculino e feminino, finalidade e causalidade, sentimento e razão, entre outros.
Desenvolver trabalhos em redes faz parte desse outro jeito de ser no mundo.

Para que uma rede decole é necessário
  • Sentido: a construção de uma rede e a participação nela devem ter um sentido claro e cristalino na vida daqueles e daquelas que a constituem ou que pretendem constituí-la. Como as redes são estruturas dinâmicas e flexíveis, que exigem uma postura ativa dos indivíduos, não podem ser fruto de imposições burocráticas;
  • Objetivos: como já dissemos, é importante definir os objetivos comuns que vão animar a construção dessa relação conjunta. Por que estamos juntos? O que buscamos? Pra que vamos tocar essa rede? As respostas às tais questões necessitam ser precisas e pactuadas, mesmo que com o tempo tais respostas mudem conforme o contexto, o surgimento e a transformação dos desafios;
  • Valores e posturas: para funcionar, as redes exigem uma cultura renovada de fazer organização, o compromisso não só no discurso, mas na prática cotidiana, com valores e posturas que favoreçam a transparência, a cooperação, a negociação e o enfrentamento assertivo de conflitos, o trabalho articulado e a potencialização da diversidade. Além das regras, pactos coletivos referentes a modos de funcionamento e espaços de decisão, exigem também, por parte dos indivíduos, uma postura aberta a aprender, a trocar, a negociar;
  • Comunicação: a comunicação é vital para o funcionamento de uma rede. Comunicação que possibilite a transparência, a circulação de informações estratégicas, a visibilização de esforços, o compartilhamento de aprendizagens, a construção de identidades coletivas, a mobilização social e o desenvolvimento de sentimentos de pertença e confiança. Além de se constituir em uma estratégia com políticas e ações e estar presente nos pactos e no modo de funcionamento, a comunicação deve ser promovida como postura dos indivíduos. Por medo de perder ou compartilhar o poder, por insegurança, por formação, desorganização, sobrecarga, falta de procedimentos institucionais adequados, orientação de nossas instituições ou por outros diversos motivos, muitos de nós agarramos e “sentamos em cima” de informações fundamentais para o funcionamento de um trabalho em rede. Como podemos fazer fluir essa informação?
  • Funcionamento: conforme os desafios e objetivos de uma rede, é necessário criar e definir regras de funcionamento. As regras, os pactos, as normas não devem burocratizar o funcionamento, mas facilitar e potencializar o trabalho em rede. Há redes que possuem animadores(as), coordenadores(as), facilitadores(as) ou outros grupos e instâncias responsáveis por determinadas funções. A maior ou menor complexidade desses arranjos depende da abrangência e dos objetivos. É importante que todos e todas integrantes conheçam e na medida do possível participem dos pactos e da legitimação do modo de funcionamento.


Fonte: adaptação e transcrição da publicação Vem pra roda! Vem pra rede!: Guia de apoio à construção de redes de serviços para o enfrentamento daviolência contra a mulher / Denise Carreira, Valéria Pandjiarjian - São Paulo; Rede Mulher de Educação, 2003.

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